Uma corrente da antropologia
humana se pergunta qual é a moral da dor. A ideia ocidental sobre a dor é que a
dor nada mais é do que uma provação divina, algo que vem do sobrenatural com um
proposito, o ser humano é quase isento da sua culpa, afinal, ela vem dos céus.
Já a perspectiva oriental muda o paralelo da dor, a dor é vista como uma
justiça transcendental que vem de vidas passadas, o ser humano aqui se aparece
como minimamente responsável por ela, por algo que ele fez em outras vidas. As
modalidades interpretativas da dor absorvem o ser humano da dor, elas são
provações que que se precisa passar para chegar em um resultado repleto de
valores. Julieta é um longa metragem que vem se isentar da moral da dor. É
sobre isso que Pedro Almodóvar procura se expressar no seu novo filme, uma adaptação do romance homônimo da escritora
Alice Munro, adaptado para a Espanha dos anos 80’s como é típico do Almodóvar, narrando
a história da protagonista (Emma Suárez/Adriana Ugarte) que precisa lidar com o
desaparecimento espontâneo da filha Antía (Blanca Parés) que ao despedir-se da
mãe para ir ao um retiro espiritual, resolve desaparecer e simultaneamente com
a morte recente do marido, Xoan.
O filme procura buscar a origem do
problema, onde começa a dor, a linha tênue entre ela e seus resultados. Ser
mulher, amar, parir, ser mãe e fracassar nesse que é um dos papéis mais
associados ao feminino. Julieta é o que há de falho em nós. É um respiro. A dor
sempre irá fazer com que o ser humano se questione e crie percepções novas do
ambiente que está inserido, mas a dor é idealizada, como se todos necessitassem
dela para um tipo de evolução interior, uma transcendência do ser. Almodóvar trás
a dor como uma anti heroína, sem nenhuma romantização clichê de superação mas
sim para a linha tênue entre o encontro de dores. O indivíduo que sofre
encontra-se com a dor do outro, cria a empatia e se torna tão ser humano quanto
o outro. A dor é um encontro de almas, como um sentimento superior que desperta
outros, é a partir da morte do marido
que Julieta inicia o percurso que oscila entre a melancolia, a tristeza, exceto
de amor e a fúria, e culmina na “dor total”, a toma de todos os sentimentos em
um superior que parece saltar pra fora do seu corpo e chegar ao limite físico.
O ser humano então precisa da dor, não para uma superação divina, mas para
sentir.
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