quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Julieta, Almodovár e a dor


Uma corrente da antropologia humana se pergunta qual é a moral da dor. A ideia ocidental sobre a dor é que a dor nada mais é do que uma provação divina, algo que vem do sobrenatural com um proposito, o ser humano é quase isento da sua culpa, afinal, ela vem dos céus. Já a perspectiva oriental muda o paralelo da dor, a dor é vista como uma justiça transcendental que vem de vidas passadas, o ser humano aqui se aparece como minimamente responsável por ela, por algo que ele fez em outras vidas. As modalidades interpretativas da dor absorvem o ser humano da dor, elas são provações que que se precisa passar para chegar em um resultado repleto de valores. Julieta é um longa metragem que vem se isentar da moral da dor. É sobre isso que Pedro Almodóvar procura se expressar no seu novo filme,  uma adaptação do romance homônimo da escritora Alice Munro, adaptado para a Espanha dos anos 80’s como é típico do Almodóvar, narrando a história da protagonista (Emma Suárez/Adriana Ugarte) que precisa lidar com o desaparecimento espontâneo da filha Antía (Blanca Parés) que ao despedir-se da mãe para ir ao um retiro espiritual, resolve desaparecer e simultaneamente com a morte recente do marido, Xoan.

O filme procura buscar a origem do problema, onde começa a dor, a linha tênue entre ela e seus resultados. Ser mulher, amar, parir, ser mãe e fracassar nesse que é um dos papéis mais associados ao feminino. Julieta é o que há de falho em nós. É um respiro. A dor sempre irá fazer com que o ser humano se questione e crie percepções novas do ambiente que está inserido, mas a dor é idealizada, como se todos necessitassem dela para um tipo de evolução interior, uma transcendência do ser. Almodóvar trás a dor como uma anti heroína, sem nenhuma romantização clichê de superação mas sim para a linha tênue entre o encontro de dores. O indivíduo que sofre encontra-se com a dor do outro, cria a empatia e se torna tão ser humano quanto o outro. A dor é um encontro de almas, como um sentimento superior que desperta outros, é  a partir da morte do marido que Julieta inicia o percurso que oscila entre a melancolia, a tristeza, exceto de amor e a fúria, e culmina na “dor total”, a toma de todos os sentimentos em um superior que parece saltar pra fora do seu corpo e chegar ao limite físico. O ser humano então precisa da dor, não para uma superação divina, mas para sentir.


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